quarta-feira, 14 de novembro de 2012


Olimpíada de Língua Portuguesa
VENCEDOR DA ETAPA ESCOLAR
Semifinalista

Gênero: MEMÓRIAS LITERÁRIAS

Título: Baú de memórias

Autor: Guilherme Lucas da Silva
Professora Orientadora: Clara Magda Alexandre Barbosa

Como eram alegres aquelas festas que aconteciam em minha cidadezinha, na época em que era ainda a Vila Mucambo. Só de lembrar me vem uma grande emoção. É como se eu revirasse um grande baú com as recordações da minha vida. Quase sinto o cheiro que emanava do solo molhado da invernada. Caminhávamos a pé por entre as veredas rodeadas de moitas, que era como se chamava a mata fechada, íamos na maior algazarra, a viagem já era uma festa inesquecível.
Por aqui aconteciam grandes festejos, sem interferências dos políticos, como é costume hoje em dia.
Sinto muitas saudades quando recordo-me da grande festança de 1958. Dá para você imaginar isso? Pense numa farra arretada! Aquilo é que era trezena. Era a festa de Santo Antônio e foram treze noites de novena, treze bailes e treze leilões. Mas os leilões não eram como os de hoje que só os ricos arrematam, os pobres também participavam, pois os produtos eram simples: feijão, milho, ovos e galinha. Ah, como eram deliciosas as galinhas cheias! Aquele gostinho de comida do sítio, cozinhada em panela de barro no fogão a lenha. Hoje já não há mais nada igual.
E as festas, então? Cada um vestia sua melhor roupa de fazenda comprada na loja do Lolô ou de Seu Vicente Linard. Os homens trajavam seus ternos de linho branco, inclusive eu. E as mulheres com seus vestidos elegantes, comprados com o dinheiro da safra do algodão. E só ganhariam o próximo vestido novo no ano seguinte. Elas podiam repetir suas mudas de roupas muitas vezes e ninguém reparava. Eram treze festas para brancos e pretos. Que festança boa! Havia muitos namoros que levavam a futuros casamentos, mas era um namoro bem diferente. Era uma namoro de longe, a gente não tinha certas liberdades. Flertávamos, dançávamos, mas não era colado.
No entanto me vem a tristeza quando me lembro que tão perto daqui, no Tabuleiro dos Mendes, acontecia um grande preconceito racial. Tento fugir dessa lembrança, mas não consigo. Havia uma orquestra de Assaré em um clube para os brancos e para os negros um sanfoneiro que tocava em um Açougue, improvisado como salão de dança. Eu, tão jovem, aceitava esse fato como se fosse normal, não compreendia o que significava isso na época.
Mas tudo isso já passou. Hoje vejo que a mocidade não se diverte mais. E lamento que eles não tenham oportunidade de sentir tudo aquilo que vivi e que deixei guardado bem no fundo do meu baú de memórias.

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